sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pastoral Americana - Philip Roth

Philip Roth é outra descoberta bem recente para mim, e eu lamento muito não tê-lo conhecido antes. O primeiro que li dele, esse ano ainda, foi o sensacional Casei com um Comunista, graças ao meu fantástico hábito de escolher o livro pela capa (que, até agora, nunca me decepcionou - acho que os editores realmente separam os melhores capistas para os melhores livros). Um ou dois meses atrás peguei o Pastoral Americana, e gente. Gente. Nem vou comentar muito, vamos à história.

O narrador é Nathan Zuckerman, escritor judeu de Newark, um alter-ego do próprio autor (que aparece em vários de seus livros, inclusive o Casei com um Comunista). O protagonista, Seymour "Sueco" Levov, é um homem que vive, na prática, o sonho americano: é bonito, rico, popular, se casa com uma miss, tem uma filhinha e mora numa casa incrível. E eles são felizes para sempre, você me pergunta? Nem de longe, leitor.

O romance começa com Zuckerman reencontrando o Sueco, em meados dos anos 90. O cara mais popular de seu tempo de escola, seu primeiro ídolo, estava casado pela segunda vez, tinha três filhos, e era um chato de galochas. Aquele tipo de pessoa que parece não ter nada especial: fala dos filhos, da sua fábrica de luvas, um pouco de beisebol e só. Nathan tem a impressão que a vida toda desse cara foi um saco, mas guarda para si. Alguns anos depois, num encontro de ex-alunos de sua antiga escola em Newark, o narrador se encontra com Jerry, irmão mais novo de Seymour, que na verdade mora na Flórida, e só decidiu ir ao encontro por que tinha mesmo vindo para o norte, para o funeral de seu irmão. Numa explosão - entre sentimentos de raiva, mágoa, rancor - ele dá a real: vida chata, a do Sueco? De jeito nenhum. Ele casou com a Miss New Jersey e tinha uma filha terrorista.

Zuckerman reconstrói, então, a vida de Levov, e nos conta a história: a adolescência, a fama na escola, o pai rígido; o período no exército, a faculdade, o namoro com Dawn, o casamento; a filha, os primeiros anos de absoluta felicidade; o começo do fim. A pequena Merry, adolescente, teimosa e gaga, muito mais revoltada com seus próprios pais do que com o "sistema"; o atentado; a fuga. As pistas falsas de Rita Cohen, os anos sem notícia da menina, a insanidade e recuperação de Dawn. O reencontro com Merry, e a decepção.

A ação se passa principalmente no fim dos anos 60 e começo dos 70. A bomba com que a garota explode uma agência de correio, matando um civil, é um protesto contra a guerra do Vietnã. Durante os cinco anos cuidando da esposa louca e esperando pela volta de Merry, há os motins de Newark, que destroem boa parte da cidade e por pouco não atingem a fábrica do Sueco; o julgamento de Angela Davis; Watergate e  Garganta Profunda, tanto o filme quanto o histórico delator. O livro é excelente como crônica desse momento da História dos Estados Unidos, mas é como literatura, e boa literatura, que deve ser lido. Eu não hesitaria em colocá-lo como o melhor livro que li esse ano.

P. S.: Os leitores vão me desculpar o atraso de um dia na postagem, é que ontem eu estava muito ocupada fazendo uma coisa importantíssima ;)

Nenhum comentário:

Postar um comentário