terça-feira, 5 de outubro de 2010

Breakfast at Tiffany's - Capote

Eu detesto essa veadagem intelectual de falar sempre que "o livro é melhor que o filme". São linguagens muito diferentes, é como comparar bagres com bicicletas. Tem casos em que o livro é mais gostoso de ler, tem casos que o filme flui melhor, casos em que o livro é chatíssimo e casos em que o filme é um insulto à memória do autor. 

O caso, no caso, é de um livro e um filme que são ambos absurdamente bons e incrivelmente diferentes, e ainda assim, não se pode falar que a adaptação não foi fiel ao livro. Se você viu o filme, vale muito a pena procurar o livro, e se, caso improvável, você só leu o livro, por que tem medo de se frustrar com a adaptação, vá ver o filme. Os dois se passam em épocas distintas, com personagens diferentes e até finais vários, mas se você destilar ambos até o ponto em que não há mais nada o que extrair, a essência é a mesma. E o nome da essência é Holly Golightly.

O filme se passa nos anos 60, e o livro, no pós guerra, mas a história é mais ou menos a mesma. Holly Golightly é uma garota sem passado que frequenta a High Society de Manhattan. O cara que ela chama de Fred, um jovem escritor, se muda para o mesmo prédio e começa a conviver com aquele mundo maluco em que ela vive. No filme, "Fred" é um desses escritores que não escrevem, e vive às custas da amante rica; no livro, ele é simplesmente um escritor iniciante e pobre como tal. Ele se apaixona, obviamente, e ela o trata como o irmãozinho mais novo que abandonou para vir para a cidade grande. Eventualmente, descobre-se o passado de Holly quando o marido com quem ela casou ainda adolescente, no interior, vem implorar que ela volte. E mais não conto, vão correr atrás.

Só uma coisinha eu digo, por que tem louco que ainda interpreta assim: no livro ou no filme, Holly NÃO é garota de programa. Tanto que logo no começo (de ambos, livro e filme) ela aparece fugindo de um cara que acha que tem "direitos" por que pagou o jantar. Fora a grana do mafioso Sally Tomato, ela vive do dinheiro que dão para ela dar de gorjeta no toalete e para o táxi; os caras ricos com quem ela sai são normalmente bem generosos. Estou esclarecendo esse ponto por que a gente chega a ver resenhas sérias que dizem que a Holly é puta de luxo. Não que haja algo de errado com as putas. Mas Holly não é puta.

Truman Capote é uma descoberta recente para mim, e se tornou rapidinho um dos meus autores preferidos. O cara tem uma precisão de lapidador com as palavras, não tem uma vírgula fora de lugar em cada coisa que escreve. Recomendo muito, inclusive, ler no original e em voz alta, se puder. Falo sério; ouça, por exemplo, esse áudio de A Christmas Memory, meu conto preferido dele e candidato sério a ser meu conto preferido NO UNIVERSO. Você pode não entender uma palavra, mas ainda assim, soa maravilhoso. 

Um comentário:

  1. Eu amo esse filme (tanto que o vi outra vez há duas semanas) e, depois de ler seu texto, fiquei curiosa para ler o livro. Do Capote, até hoje, só li o "A Sangue Frio". Assustador. Creio que só cheguei ao final pq o texto era fantástico, primoroso. Eu, que me impressiono com esse tipo de leitura facilmente, sinto até hoje um misto de admiração e mal estar quando lembro do livro. Brilhante.

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