terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lolita - Nabokov

Eu demorei para ler Lolita. Vi o filme muito antes, e, na real, detestei. Não sabia precisar se foi por que a história do tarado sujo com a vagaba juvenil me incomodava, ou se, pecado dos pecados, foi por que eu não sou lá muito fã de Kubrick. Enfim, o fato é que demorou muito tempo para eu encarar o volume, por que já tinha esse preconceito na cabeça, e oh boy I so was wrong.

Nabokov já sai deliciosamente bem com as deliciosas aliterações de um dos começos de livro mais citados entre os começos de livro da história dos começos de livro - Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta (em inglês é mais gostoso ;) - e já vem logo depois com aquele spoiler maneiro do final do livro - só um assassino para ter um estilo tão floreado.

Humbert Humbert, expatriado francês e pedófilo contumaz, vai parar numa cidadezinha da Nova Inglaterra, depois de alguns capítulos dedicados a sua vida pré-Lolita. Hospedando-se na casa de uma viúva, Charlotte, se apaixona à primeira vista por sua filha, Dolores Haze, uma guria de doze anos. Uma guria de doze anos que era a própria imagem de Annabel Lee, sua primeira paixão. Ele criança, ela criança, num principado à beira mar, - a referência ao Poe é tão óbvia que é covardia - tentando acalmar a fúria dos hormônios longe da vista dos grandes, sem conseguir; e ela morrendo um ano depois, cristalizando sua imagem no coração de Hubert, que agora procura uma Annabel Lee em todas as amantes que encontra. E o filme, senhores, o filme omite vergonhosamente esse background poético da perversão do nosso "herói".

O resto, o filme resume razoavelmente. Humbert se casa com a viúva Haze, para ficar perto de Lolita; Charlotte encontra o diário dele, pira, corre da casa e é atropelada. Aí vem viagem pelos EUA - onde viram amantes -, a mudança para outra cidade, a fuga de Lolita. O reencontro, o assassinato. Ok. Ok, mas...

Primeiro, que o filme ignora sumariamente todo o delicioso, doentemente bem-humorado diálogo interior de Humbert Humbert. Que se corte alguma coisa da história para espremer um livro de 300 páginas em umas duas horas de filme, é compreensível, mas a coisa foi longe demais. Esquecer a história da Annabel Lee foi um pecado mais feio do que a fornicação com pré-adolescentes. Pior ainda do que isso tudo foi o jeito de contar a história (ao contrário do livro, que é bem sensato), que dá a entender que foi a mini-vagaba Lolita quem seduziu o velho e fraco Humbert, que foi encantado, manipulado e transformado em assassino por essa pequena Lilith mascadora de chiclete. A moral da história, senhores, é que se você tem uma vagina, a culpa vai ser sempre sua, ainda que você seja uma criança.

P.S.: As imagens que ilustram o post são do Balthus, esse polonês tarado. Tem uma galeria muito bacana com 150 capas de Lolita aqui.
P.P.S: O filme de que falo é o primeiro, de 1962, do Kubrick. Tem uma versão recente, de 98, com uns fodões tipo o Jeremy Irons e a Dominique Swain, mas cheira a blockbuster e eu não me animo a ver. Alguém?

8 comentários:

  1. Lolita é um livro lindo e doente que eu adorei. Assisti às duas versões pro cinema e a mais recente não é ruim. Se não me engano, ele incorpora a treta da Annabel Lee.
    E a Lolita da Dominique Swain eu achei mais sexualizada (e perversa) que a de Sue Lyon, tão sem charme...
    O filme do Kubrick eu vi quase até o final, mas acabei dormindo.
    Comparações à parte, bom mesmo foi ler o Nabokov. Quero mais!
    (ele devia ser meio estranho, escreveu um livro sobre as borboletas também... vai entender!)

    muah!

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  2. ...traigo
    sangre
    de
    la
    tarde
    herida
    en
    la
    mano
    y
    una
    vela
    de
    mi
    corazón
    para
    invitarte
    y
    darte
    este
    alma
    que
    viene
    para
    compartir
    contigo
    tu
    bello
    blog
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    y
    claveles
    dentro...


    desde mis
    HORAS ROTAS
    Y AULA DE PAZ


    TE SIGO TU BLOG




    CON saludos de la luna al
    reflejarse en el mar de la
    poesía...


    AFECTUOSAMENTE
    DANIELI

    ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

    José
    Ramón...

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  3. eu gostei, achei um livro muito bom

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  4. Excelente texto. E a versão de 98 pro cinema, embora mais fiel ao livro, é, como citou outro comentário, mais sexualizada. A Lolita da D. Swain é menos charmosa... é quase uma personagem de pornô softcore. Mas o Jeremy Irons manda muito bem. Arrisque, numa dessas você curte.

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  5. Também não me animei a ver o remake...de qualquer forma, o livro é INFINITAMENTE melhor do que o filme, e marcou o início do meu gosto pela literatura de putaria, recomendo ever. Beijo

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  6. Releio teus posts a algum tempo, gosto muito. Porque parou?
    Quanto a versão de 98 de Lolita, curti. Sei lá, acho a Dominique Swain uma puta atriz, sério.

    Abraço!

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  7. "história do tarado sujo com a vagaba juvenil"... "pedófilo contumaz"... dear, you're not just so wrong, perdoe-me mas, você nao entendeu nada do drama humano por detrás das duas figuras, nada da fragilidade daqueles espíritos, nada da habilidade literária com que Nabokov mostra a tênue linha que separa o normal do anormal. Lolita é um dos mais belos e sensíveis escritos sobre a corrosao emocional a que a vida pode levar o indíviduo, um olhar agudo e realista sobre o amor desmedido e incontrolável, sobre a urgência de se sobreviver com o que se tem em maos para enfrentar a vida. Nao há nada de sujo ou de vagaba em nenhum dos personagens. Há sim, uma conclusao precipitada de sua parte, ou imaturidade, ou insensibilidade. Isso nao é uma crítica, é apenas a constataçao de que uma pessoa jovem ou emocionalmente imatura nao interpreta um drama desses com a devida ponderaçao. Fica meio infantil e atrevido emitir opiniao assim espontanea e carente de fundamento, aliás, mesmo sua reflexao posterior demonstra que você nao atingiu o substrato psicológico da obra magnífica de Nabokov. Reitero que isso nao é um comentário destrutivo mas apenas uma observaçao para que, no futuro, você considere amadurecer sobre um assunto antes de publicar sua opiniao a respeito, especialmente quando for comentar uma obra dessa envergadura, e tao amplamente debatida. No mais, parabéns por ler, prática em desuso neste país. Abraço.

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